segunda-feira, 10 de maio de 2010

As duas vidas de Chanel

Coco Chanel entrou para a história por revolucionar a moda e os costumes, mas a aura de mito foi alimentada também pelas diferentes versões de sua trajetória pessoal. A norte-americana Elisabeth Matthews, os ingleses Justine Picardie e Chris Greenhalgh, as francesas Edmonde Charles-Roux e Catherine de Montalembert e o dinamarquês Axel Madsen foram apenas alguns dos que contaram em livro, sob variadas perspectivas, a história de como Gabrielle Bonheur Chanel saiu de uma infância pobre para se tornar a célebre criadora da Maison Chanel. Duas produções feitas para as telas e lançadas agora em DVD ajudam a colocar mais lenha nessa fogueira: o filme Coco antes de Chanel, de Anne Fontaine, e a minissérie para tevê Coco Chanel, de Christian Duguay.

 - (Haut et Court - Ciné/Warner Bros./Reprodução)
Colocados lado a lado, filme e minissérie (em dois capítulos) tendem a alimentar ainda mais possíveis dúvidas sobre a vida particular da estilista. São adaptações livres da história real, com gritantes divergências sobre pontos cruciais da trajetória de Chanel. No geral, o que se sabe é que Gabrielle nasceu em 1883, em Saumur, interior da França, e era um dos quatro filhos — dois meninos e duas meninas — de um caixeiro viajante e de uma mãe doente e dedicada ao lar. Com a morte desta, as irmãs foram enviadas a um orfanato e os irmãos, ao trabalho numa quinta. Ao sair do colégio interno, aos 20 anos, a ainda Gabrielle teria trabalhado em ateliês de moda e tentado sem sucesso a carreira como cantora e bailarina.

Até esse ponto da história, Fontaine (A garota de Mônaco) e Duguay (diretor de tevê com incursões no cinema em filmes de ação como A cilada e Desafio radical) percorreram caminhos bem diferentes. Afora detalhes narrados de maneira totalmente diversa — a cineasta ignora completamente a existência da irmã e dos irmãos, por exemplo, e seu colega não cita as experiências de Coco como cantora —, o perfil da Chanel de Audrey Tatou no filme, mais seca e cética no amor, nada tem a ver com a docilidade adotada por Barbora Bobulova, intérprete da protagonista na minissérie (e por Shirley McLaine na velhice).

 - (Versátil Home Video/Reprodução)
As diferenças se agravam quando a história avança e mostra a relação da futura estilista com Étienne Balsam e Arthur “Boy” Capel. Com Balsam, milionário com quem ela passaria a viver, Coco teria tido uma relação de conveniência mútua, segundo Fontaine, e uma paixão com toques de romantismo, na versão de Duguay. No filme, “Boy”, o inglês que a ajudaria a abrir seu primeiro atelier, morre em acidente quando Coco está em ascensão, e na minissérie permanece vivo. Ainda que nenhuma das produções se proponha a ser documental, o telespectador deve se perguntar, a essa altura, se um e outro tratam, afinal, de uma personagem real ou saída da imaginação dos roteiristas.

Aliás, o roteiro é um dos pontos fracos de Coco antes de Chanel. Ainda que se limite a narrar a história de Gabrielle antes de se tornar Coco Chanel (o que está claro no título), o filme faz isso aos saltos, deixando lacunas e ensaiando uma profundidade nos personagens que nunca se concretiza. Enquanto isso, Coco Chanel, a minissérie, peca pelo excesso no tom folhetinesco e no romantismo, o que tira da produção qualquer credibilidade enquanto biografia.

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